O número de utilizadores de redes sociais não para de crescer. Segundo um relatório elaborado pela consultora norte-americana We Are Social, tornado público em 2020, em pleno período de pandemia, mais de 4,5 mil milhões de pessoas em todo o mundo utilizam a internet no seu quotidiano e, dessas, mais de 3,8 mil milhões têm contas em plataformas digitais como o Facebook, o Instagram, o Twitter, o TikTok, o WhatsApp, o YouTube e o Snapchat, as redes sociais mais utilizadas em países como Portugal.
De acordo com as estimativas dos analistas, com base em estudos científicos desenvolvidos internacionalmente, os sul-americanos e os africanos são os que passam mais horas ligados a estas aplicações móveis. Fazem-no, em média, mais de três horas diariamente. Os norte-americanos, esses, dedicam-lhes um pouco mais de duas e os europeus não vão, por norma, além dos 75 minutos. A média portuguesa é, todavia, superior. Os portugueses passam quase o dobro ligados.
O estudo “Os portugueses e as redes sociais”, realizado pela empresa de estudos de marcado Marktest, entre os dias 1 e 14 de julho de 2020, já em fase de desconfinamento, com base numa amostra constituída por 807 residentes no território continental, com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos, utilizadores regulares destas plataformas, concluiu que os portugueses despendem, em média, 96 minutos por dia nestas aplicações e, desses, cerca de 40% assume que ocupa mais de duas horas por dia a navegar, a publicar e/ou a partilhar pensamentos, fotografias, vídeos e/ou ligações com amigos e seguidores.
Entre 2019 e 2020, segundo o estudo, o tempo de utilização aumentou, em média, três minutos em Portugal. Uma tendência de crescimento que não para de crescer desde a massificação destas novas formas de comunicação em território nacional e que começa a preocupar alguns especialistas.
A explicação científica
Apesar de não existir um método de diagnóstico que permita comprovar cientificamente aquilo a que muitos já chamam de dependência das redes sociais, a expressão tem vindo a ser usada nos últimos anos. Nos Estados Unidos da América, investigadores e médicos estimam que 10% da população sofra deste vício. A maioria são crianças, adolescentes e jovens adultos mas, tal como sucede com Kendall Jenner, os números mostram que a utilização é transversal a todas as faixas etárias.
A explicação para o fenómeno é simples. Além de ser uma forma prazerosa de passar o tempo e de ver o que está a acontecer no mundo, apesar da informação que lá é veiculada nem sempre ser correta e fidedigna, é também uma maneira de observar, de forma discreta, o que se passa na vida dos outros, satisfazendo uma curiosidade que é intrínseca à condição humana. Sempre que nos ligamos, o cérebro liberta dopamina, uma substância química que gera sentimentos de prazer e recompensa.
Com o passar do tempo, esse órgão passa a associar esse comportamento a uma sensação de bem-estar, incentivando a sua repetição, tal como sucede com as substâncias aditivas. Um estudo científico levado a cabo pela Universidade de Harvard, em Cambridge, no Massachusetts, nos Estados Unidos da América, um dos países que mais tem investigado esta dependência, comprovou que, sempre que somos confrontados com um estímulo proveniente das redes sociais, uma publicação entusiasmante, uma resposta a um comentário ou uma interação inesperada, é ativada a mesma parte do cérebro que se ativa quando é ingerida, fumada, inalada ou injetada uma substância aditiva, como o álcool, o tabaco e as drogas.
Os especialistas não têm dúvidas. O uso intensivo das redes sociais tem consequências nocivas. A diminuição da autoestima é uma delas. Ao comparar a sua vida mais monótona com o dia a dia alegadamente mais agitado e entusiasmante das pessoas que observam, muitos utilizadores sentem-se frustrados, dececionados e até injustiçados com o seu destino, o que acaba por gerar sentimentos de tristeza, de inveja e/ou de miserabilismo que se repercutem, depois, na sua saúde mental.
As consequências mais gravosas
Em todo o mundo, especialistas têm analisado as consequências sociais desta dependência. Vários estudos internacionais comprovaram que esses indivíduos com esta adição sentem-se, por norma, mais sós e isolados. Com o tempo, vão-se tornando mais nervosos e menos empáticos. Alguns chegam a evidenciar sinais de distúrbios de ansiedade. O medo de não ser o primeiro a ver e o receio de perder publicações importantes leva muitos a levar o telemóvel para a cama, dormindo menos horas.
A excitação causada numa altura em que o cérebro deveria começar a desligar para descansar também interfere com a qualidade do sono, reduzindo o efeito reparador do descanso noturno. Menosprezar as relações da vida real, privilegiando as que se desenvolvem apenas no espaço virtual, muitas vezes com pessoas que nunca vimos em carne e osso, é outra das críticas. Os estudos mostram ainda que os que passam mais tempo de volta das redes sociais tendem também a ser mais sedentários.
As estratégias a adotar
– Desinstale as aplicações das redes sociais no seu telemóvel. Pode continuar a aceder através do seu computador ou do seu tablet mas deixa de estar permanentemente a ser confrontado com os alertas de novas publicações e comentários.
– Se ainda não se sente preparado para as remover do seu telemóvel, habitue-se a desligá-lo da internet no trabalho, na escola, no ginásio, durante as refeições e durante as atividades recreativas. Com o tempo, deixará de sentir essa necessidade.
– Defina um período de utilização máximo e, ao atingi-lo, passe de imediato para outra atividade. Se necessário, recorra a um cronómetro para não ultrapassar o tempo estipulado.
– Não leve o computador, o tablet nem o telemóvel para o quarto, para não ter tentações até adormecer ou logo nos primeiros minutos depois de acordar.
– Procure, sempre que possível, marcar encontros presenciais com familiares e amigos para reduzir as interações digitais. O convívio social favorece a saúde mental, como confirmam inúmeros estudos científicos.
– Arranje um passatempo que não tenha nada a ver com as novas tecnologias. Praticar desporto, aprender um instrumento musical, aulas de dança e workshops de culinária ou de atividades manuais são algumas das alternativas a que pode recorrer.
01.07.2021
Fonte: lifestyle.sapo.pt